quarta-feira, 27 de março de 2013

Pra eu namorar...


 
...o moço vai ter que descobrir meu endereço e vir até minha casa me cortejar. Ele precisa ter coração e ser romântico o suficiente pra não rir dessa minha necessidade.
Nunca tive um pedido oficial. As coisas aconteciam e quando me dava conta, estava tomando chá da tarde rodeada de tias que apertavam minhas bochechas enquanto perguntavam “Pra quando é o casório?”.
Não era namoro, mas tinha tudo pra ser. Era especial, mas não tinha nome. Não quero mais nada sem nome. Quero alguém gaguejando na minha frente dizendo coisas lindas e pedidos oficiais.
O lado ruim de ser moderna (o que é ser moderna, mesmo?) é que ninguém te paquera porque imagina que você vai achar tudo bobo. Ninguém te manda email com letra de música, ninguém diz coisas doces. Sou boba. Não sou descolada. Me faço de moderninha pra me enturmar, mas sou fracote. Choro. Releio mensagens no celular. Quase escrevo cartas com perfume.
Pra eu namorar o moço precisa ter sorriso aberto e espontâneo. Cansei de piadista, humorista, Bozo.
Precisa ser simples e de boa família. Precisa gostar de vó, de criança e de cachorro. Se postar foto no Facebook de rostinho colado com sobrinha, amo de paixão. Assino contrato sem ler.
"Pra eu namorar o moço precisa ter sorriso aberto e espontâneo. Precisa ser simples e de boa família. "

Não pode ser conectado. Quanto mais online, mais fraquinha vai ficando minha conexão com ele.
Pra eu namorar, o moço precisa manter relação amigável com as letrinhas. Não precisa escrever texto de acordo com a nova reforma ortográfica, mas precisa não escrever menas, muito menos convidar pra um “almoçinho”.
O meu namorado precisa jogar futebol toda terça-feira à noite, ou qualquer outro dia da semana, tanto faz. Porque se ele esquecer definitivamente os amigos por minha causa, logo me esquece definitivamente por causa de alguém. Se ele deixa de lado as próprias vontades pra fazer as minhas, com o passar dos meses vai deixar de lado as minhas também.
Ele não deve usar roupas caras. Quanto maior o valor da roupa, menor o cérebro. É provado.
Aliás, se ele vestisse jeans e camiseta branca todos os dias, seria sem dúvidas o homem mais lindo desse mundo. E se não for pedir muito: que ele não seja muito bonito, por favor.
Homem bonito demais tem ego pesado demais, difícil de carregar.
Pra namorar comigo o moço tem que estar por fora das festas que estão rolando na cidade, porque só de ouvir a palavra “rolando” já me caem os ombros de preguiça.
Se ele não suportar praia lotada, música alta e lounges com gente maluca de olhar perdido sensualizando, vou achar o máximo. Camisa colada, braço estufado, mãos pra cima, cabelo da moda, não precisa. É importante que ele fale com a boca, não com os músculos. Homem baladeiro soa desespero.
Alguém que precisa preencher vazio, morre de medo da própria imagem no espelho e chora de solidão. Homem chora. Um amigo me contou. Esse amigo promove festas, vive rodeado das mais belas da cidade e chora pelo menos uma vez por semana.
Moço pra namorar tem que ser simples como uma conta de dois mais dois. Não óbvio, mas simples e objetivo, transparente, leve como a brisa da frase de Clarice Lispector. Homem que faz joguinhos merece um minigame, não respeito.
É preciso que ele discorde quando eu estiver errada. Porque eu erro.
Não importa se ele vai me propor comer cachorro quente na praça ou pratos elaborados em restaurante quentinho com velas e som ambiente. Não importa se vai me pedir em namoro em Paris ou dentro de um mercado lotado. Ele precisa apenas pedir. E existir.
Texto de: Vanessa Pinho 

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